2 anos morando na África do Sul

Foram 2 anos morando em Johannesburgo, na África do Sul. Experiência única, inesquecível, feliz, mágica, transformadora, emocionante, fascinante, especial…

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Cartaz que ganhei das crianças do Soweto na minha despedida.

Algumas reflexões sobre o que aprendi, entendi, vi, vivi e mudei com essa experiência:

Se eu soubesse como seria, eu teria sofrido bem menos para sair do Brasil;

– A minha adaptação a vida Sul-Africana foi muito mais fácil e rápida do que eu imaginava que seria;

– Ajudei todas as pessoas que eu pude ajudar, porém menos do que eu gostaria;

– Descobri o real significado da palavra “mágica” quando se trata em fazer a diferença na vida de alguém;

– Tive a certeza de que precisamos de muito pouco para viver e para sorrir;

– Aprendi a reclamar menos das coisas bobas e a sorrir mais;

– Fiquei mais paciente;

– Passei a ver o mundo de vários pontos diferentes, ao mesmo tempo;

– Me tornei Fada! Uma vez fada, Fada para sempre!;

Me vi mudar, lentamente e progressivamente;

– Mergulhei em uma história e cultura totalmente diferentes da minha. Aprendi.;

– Vi, com meus olhos, o quanto o Apartheid foi cruel, muito mais do que os livros contam;

– Senti e entendi a verdadeira e mais profunda importância do Nelson Mandela, o Madiba, no coração do povo local;

– Entendi que as heranças do Apartheid vão, ainda, demorar algumas gerações para desaparecer;

– Fiquei ainda mais intolerante ao preconceito contra os negros;

– Tive muito contato com a natureza, com os animais e isso não tem preço;

– Nunca viajei tanto (nacional e internacional) na minha vida em tão pouco tempo;

– Fiz viagens para lugares que eu nem sabia que existia;

– Fiz muito mais amigos do que eu imaginava que faria: de Portugal, Alemanha, Korea, Reino Unido, a maioria do Brasil e até locais da África do Sul que é o mais difícil de se fazer;

–  Dentre esses amigos, sei quem vai ser para toda a vida;

– Consegui mostrar esse lindo país para a minha mãe, que me visitou diversas vezes, para minha sobrinha Bia e para alguns amigos;

– Não sei mais onde chamo de “casa“, no sentido emocional da palavra;

– Hoje eu sei que tenho muito mais coragem do que eu achava que tinha;

– E que eu posso recomeçar, sempre e com bem menos medo do que antes;

– Que criar uma nova vida pode te dar mais alegrias e emoções do que viver dentro da sua zona de conforto a vida toda;

Waka Waka passou a ser um estado de espírito;

– Quando volto para visitar o Brasil tudo sempre parece igual, do jeito que deixei antes de me mudar;

– Sempre faltam-me palavras para descrever tudo isso que listei aqui quando um amigo me pergunta “E aí?, como está na África?”;

– Perdi a noção do que “é ser normal“… mas o que é ser “normal mesmo”?

– Saudades fizeram parte de todos os meus dias durante este tempo e quando vou ao Brasil nunca consigo fazer tudo e ver todos que eu gostaria, me sinto uma turista na minha própria cidade;

– Agora acumulo mais pessoas, lugares e história para sentir saudades.

– Sou e serei eternamente grata a Deus por essa oportunidade, que prefiro chamar de “presente” na minha vida.

Hora de aumentar o Som e apertar o Play para ver o vídeo que fiz, de 30 segundos, da minha feliz e já saudosa experiência morando na África do Sul: http://flipagram.com/f/SKX05pr93s

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Recebi ontem essa imagem da Ilana Friedman, dona da Magical Moments, ONG para a qual trabalhei por 2 anos na África do Sul, tradução: “A vida não é sobre todos os passos que você teve que tomar, ou todos os locais por onde passou, é sobre as pegadas que você deixa para trás”.

Eu vou… deixo minhas pegadas em terras Waka Waka… E levo tudo e todos, comigo, no meu coração.

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Tatuagem que eterniza esses 2 anos na minha vida.

 

     OBRIGADA, THANK YOU, SIYABONGA África do Sul !

MAS ainda não é hora de voltar pro Brasil… É hora de recomeçar, começar uma nova vida… NYC aí vou eu!

Detalhes dessa nova etapa da minha vida “na cidade que nunca dorme” no instagram pelo perfil @my_eye_nyc.

http://instagram.com/my_eye_nyc?ref=badge

SEGUE LÁ !

Trabalho Voluntario na África do Sul

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Foto: Magical Moments.

Um dos objetivos que eu tinha claro em mente, antes de me mudar para a África do Sul, era dedicar parte do meu tempo a algum trabalho voluntário que atingisse diretamente alguém em verdadeira e grande necessidade, onde eu pudesse ser realmente útil. E quando cheguei em Johannesburgo, há 2 anos atrás, comecei minha busca por esse local. Cheguei a visitar uma casa de crianças portadoras do vírus HIV, havia espaço para um trabalho porém percebi que ali apesar da dura realidade, eles já tinham ajuda de outras pessoas e também doações de empresas. Não estava sentindo 100% que ali seria “o meu lugar”, foi quando conheci uma pessoa (que se tornou minha grande amiga) que me falou sobre uma ONG Sul-africana que proporcionava momentos extraordinários na vida de crianças pobres, moradoras das favelas da cidade. Bingo ! Achei o “meu lugar”!

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(foto: Magical Moments)

Esta Ong chama-se Magical Moments (magicalmoments.co.za), ela atende Day Cares (creches) das principais favelas de Johannesburgo, locais onde os pais deixam seus filhos durante todo o dia para poderem trabalhar. (as escolas públicas aceitam crianças apenas acima de 5 anos) E o trabalho dela eh ir a até eles, em lugares que mais ninguém chega para ajudar, que não recebem nenhum tipo de ajuda e o serviço social praticamente ignora, justamente dar o que eles mais precisam: amor e atenção. Sempre levávamos uma atividade diferente como pintar, recortar, colar, etc e algo para eles comerem como iogurte, suco, cachorro-quente, etc.

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Musa Day Care. (foto: Magical Moments)

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(foto: Magical Moments)

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Sucos. (foto: Magical Moments)

A maioria, dos Day Cares, são construídos com um material muito semelhante a um container (parede metálica, fina e ondulada), com chão de terra, as vezes cobertos com pedaços de carpetes ou tapetes doados, e são pequenos para o número de crianças que atendem. Com essa descrição você pode imaginar que no verão o local eh insuportavelmente quente e no inverno muito frio. A primeira vez que entrei em um Day Care e vi ali 3 containers, dividindo as crianças por idade, e as crianças gritando felizes que o grupo do Magical Moments ( auto denominado de “fadas”, com direito a asinhas e tudo! – havia chegado),  fiquei em choque e eu não sabia se ficava feliz também por estar lá com eles ou se eu ficava triste pela duríssima realidade para qual eu estava sendo apresentada. As crianças menores choravam toda vez que eu tentava me aproximar , isso geralmente acontecia com os bebês (Sim! Tinha bebês de 1 mês de idade em diante) e depois fui entender que essa reação era “normal” porque eles nunca tinham visto gente branca!!! 100% da população pobre/miserável da África do Sul é negra, herança do tão ainda presente Apartheid. (isso se repetiu diversas vezes, em diversos Day Cares…) Acho que nesse dia tive um mix de sentimentos e naquela noite, quando coloquei minha cabeça no travesseiro demorei para dormir só pensando em como estariam aquelas crianças…

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Lulamani Day Care “por fora”. (foto: Magical Moments)

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Lulamani Day Care “por dentro”. (foto: Magical Moments)

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A felicidade com uma simples bolinha de sabão. (foto: Magical Moments)

À partir desse dia me tornei “Fada”, Magical Fairy Debbie.

Quando as doações permitiam a Ong organizava eventos, fora dos Day Cares, para proporcionar novas experiências para as crianças. O local escolhido, geralmente, um parquinho em um shopping ou ao ar livre (dependendo da condição climática do dia), as vezes tinha grama que causava sensações diferentes naqueles pezinhos sofridos, muitas vezes era colorido, tinha música, brinquedos, as “fadas” para dar carinho e atenção, comidas “novas” como sorvete ou pipoca arrancavam risos, olhos arregalados e muitos “Uaus” da maioria dos pequeninos… Indescritível a sensação de presenciar isso! Coisa tão simples para as crianças que conhecemos, mas para eles algo tão novo, tão surpreendente e tão feliz ! “O sorvete é gelado!”  Ouvi isso de um menino pequeno, devia ter 3 ou 4 anos, que pela primeira vez na vida estava podendo comer um sorvete… ele ria com uma cara surpresa e voltava a colocar a ponta da língua no sorvete… Fiquei triste porque ele nunca havia experimentado antes ou porque talvez ele demorasse muito tempo para poder tomar sorvete novamente? NÃO!!, optei por ficar feliz em estar ali ajudando a proporcionar aquela experiência para ele, que certamente ele não esqueceria tão cedo. Nem eu.

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Sorvete. (foto: Magical Moments)

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(foto: Magical Moments)

Independente do tipo de evento, todos tinham o fechamento igual: primeiro agradecimentos, depois uma música “de agradecimento” (“Thank you, very much, Keep it up and shine like a star like a big big star”), e por fim ensinávamos as crianças a mandarem amor, abraços e beijos (Love, Hug and Kisses) para o Universo, para todos ali presentes e para eles mesmos e, em ocasiões especiais como por exemplo a morte do Mandela, mandamos “Love, Hug and kisses” para o Mandela também, ou quando alguma fada estava ausente por um motivo que merecia nossa atenção, etc.

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O momento de “mandar amor” – Love ! (Foto: Magical Moments)

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(foto: Magical Moments)

O MM tem um calendário super organizado anual para tentar atender a todos os Day Cares que eles tem contato pelo menos uma vez ao ano. E, sempre ao final do ano o MM organiza um almoço para as “donas” desses Day Cares, pessoas que são responsáveis pelo dia-a-dia das crianças, que trabalham duro com o mínimo de dinheiro possível e também vivem na pobreza. Tive a oportunidade de participar desse almoço em dezembro de 2014, o local escolhido: um restaurante no Sandton City (um dos shoppings mais chics da cidade). Nos encontramos em frente a grande estátua do Nelson Mandela, que fica anexa ao Shopping, todas mulheres arrumadas e animadas para o que viria pela frente, tiramos fotos ali, a maioria só tinha visto a estátua pela televisão (mesmo tendo sendo inaugurada em 1991!), “Porque vou andar 1hora de condução para vir em um lugar de rico se não tenho dinheiro para comprar nada?” foi como uma delas me explicou o porque de nunca ter ído lá antes. A excitação em “andar de escadas rolantes” e a alegria em “passear no Shopping igual gente rica” foi contagiante. Havia uma mesa reservada e carinhosamente arrumada para o almoço. A entrada do almoço foi sushi de salmão ! UAU ! Pela primeira vez na vida essas mulheres, senhoras na faixa dos 50 anos, provaram um sushi! E “para segurar os palitinhos”? rs  E depois puderam escolher qualquer coisa do cardápio como prato principal, umas estavam inseguras em “ter que pedir sua comida para alguém”, outras não conseguiam ler rápido as opções do cardápio porque “era muita coisa boa junta”, umas pediram salada “porque queriam experimentar a comida que gente rica come”, a maioria pediu carneiro “porque é caro, eu gosto e nunca posso comprar”… e no fim muita gratidão por “alguém” ter pensado nelas… Foi outra experiência, impagável, que fechou um ciclo na minha bagagem sul-africana que vou levar comigo pro resto da vida !

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A foto com o Mandela. (foto: Magical Moments)

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Prazer, Sushi ! (foto: Magical Moments)

Aos poucos fui me comprometendo de uma tal forma que já estava avaliando novos beneficiários com a dona da Ong, ajudando a criar os eventos como por ex: Carnaval brasileiro e Copa do Mundo, fazendo sacolinhas de natal (como no Brasil) para algumas crianças, para outras brigadeiros e guaraná (amaram!!!), arrecadando doações e dinheiro através da Muvuca Solidária (outro trabalho que criei , mas isso é assunto para outro post), cheguei até levar fitinhas do Bonfim pra lá e algumas camisas do Brasil (eles adoram o Brasil!!!)…, enfim mergulhei de corpo e alma.

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Evento “Carnaval” no Soweto. (foto: Magical Moments)

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Evento “Copa do Mundo”. (foto: Magical Moments)

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Brigadeiro ! (foto: Magical Moments)

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Zulu Boy, dono de um dos Days Cares que o MM assisti, com seu presente: uma camisa do Brasil

Lidar tão diretamente com a pobreza no mais baixo nível imaginário é , sem dúvidas, emocionalmente difícil. Dá vontade de levar as crianças para casa, várias vezes fiz lanches em casa e saia nos faróis para distribuir (sozinha!) porque sempre achava que eu podia fazer mais por aquelas pessoas (e podia mesmo!), muitas vezes me peguei me questionando porque eu morava em uma casa grande e confortável enquanto uma família inteira se amontoava em um quartinho só, outras vezes me via rolando no chão (literalmente rs) com crianças sujas (água para eles é um ítem raríssimo, nos barracos não tem banheiros) que certamente podiam me contaminar de alguma forma… mas a vontade em querer fazer o bem, incondicionalmente era e é muito maior do que qualquer impecílio!, crianças super educadas, queridas (bem diferente de muitas que vemos por aí, “que tem tudo” na vida) e super gratas por eu simplesmente estar ali. Com o tempo, acostumei a lidar com essas coisas… e posso dizer que aproveitava mais o lado bom de toda essa triste situação. Eu fui atrás do MM para trabalhar, para me doar e quem acabou ganhando mais nessa história fui eu mesma! Todos os dias, de trabalho com o MM, resultaram em algum aprendizado para mim, esses aprendizados fizeram de mim uma pessoa diferente da que chegou na África do Sul, pessoa essa que vai carregar a bandeira do Magical Moments onde quer que esteja, para sempre. Uma vez fada, fada para sempre. Obrigada. Siyabonga.

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Keep Calm, I am a Magical Fairy ! (foto: Magical Moments)

 Love, Hugs and Kisses ! ,

Magical Fairy Debbie.

Para doações para Magical Moments: http://magicalmoments.co.za/?CategoryID=7 ou através da Muvuca Solidária: https://www.facebook.com/AMUVUCASOLIDARIA?ref=ts&fref=ts